terça-feira, 19 de junho de 2012

Família Real do Reino de Alas

Ascenção ao Trono

Liurai D. Carlos Borromeu Duarte, natural de Hatolia Diribate,  filho do Liurai  D. José Duarte e de D. Humbelina Duarte, cresceu em Hatolia, e foi estudar no colégio de soibada. Depois da morte do Liurai D. Januário em combate de 1912 em Same/Manufahi na colaboração com D. Boaventura. A nobreza de Kadunan Uma Brereloik e Natar Bocu (Casa Real) e os Datos de Alas pensaram em procurar um príncipe para ascender ao trono como régulo de Alas, “em tetum hatodan An ba Kadunan Uma Bereloik hodi ukun Rai Alas”, que muitos diziam haver um príncipe a estudar no colégio de Soibada, que era D. Carlos Borromeu Duarte. Então a Nobreza e os Datos (Cortes) foram para Soibada para falar com um Padre Jesuíta, que era seu professor. Na chegada ao local, conseguiram encontrar o Padre e perguntaram, “ami rona katak liurai loromonu oan ida escola iha Colégio né - padre dehan, iha duni liurai oan ida, escola iha ne naran Carlos Borromeu Duarte maibe, nia metan ho oin at hanesan  ema fuik - e sira hatan fali, oin at labuatida naran katak liurai oan, hodi hatodan An hodi  kaer ba Rai  Alas”. E o padre disse “ eu vou chamar o Carlos e vocês falam pessoalmente com ele”. Assim eles acabaram por conversar pessoalmente com o príncipe Carlos, sobre a sucessão do trono em Alas e ele aceitou.
 As Nobrezas e os Datos regressaram à Alas. Quando chegaram, reuniram-se logo com outros Datos que não foram à Soibada, com intuito de fazer um andor para trazer D. Carlos a Alas. Todos concordaram e assim fizeram. Ao retornarem à Soibada as Nobrezas e os Datos levaram com eles o andor. No regresso à Alas, o príncipe Carlos vinha transportado no andor, “ andor ne hafutar ho tais amarasse; tais liurai, ne, maka kous ho hiti liurai oan sira”, e o andor era enfeitado de tais amarassi como forma de máximo respeito.

Quando D. Carlos chegou à Alas, para receber o trono, alguns Datos duvidaram da sua origem como Nobreza de Hatolia. O príncipe Carlos para provar, disse “ se vocês não acreditarem que sou da nobreza de Hatolia, é melhor eu voltar ao meu reino, e trazer o bastão do meu pai (rota hodi ukun)”. Meses depois trouxe consigo o bastão do pai e alguns dos seus servos de Hatolia, servindo como testemunho a sua origem nobre e de família real. Após ter confirmado,as Nobrezas os Datos entregaram o trono ao príncipe Carlos, dando o seguimento da cerimónia do casamento tradicional com a princesa Engracia Doutel Sarmento, herdeira da casa Real (Kadunan Uma bareloik  e  Natar Bocu) e filha legítima do régulo D. Afonso Hornai Soares Perreira de Bibiçuçu (Fatubereliu) e irmã legítima de D. Bernardo  Doutel Sarmento. “ Casamento tradicional, dato sira entrega liurai feto oan Engracia nia limam ba liurai mane Carlos hodi dehan – né liurai feto be ita bot simu hodi hatodan An ba iha Kadunan Uma Bereloik hodi kaer ba rai Alas no atu fo mos hanesan ai ida, hodi fuan naruk ba nafatin”. Neste casamento (kabem tuir rai fuan) tiveram três flhos: Nai kosok Catarina Doutel Sarmento Borromeu Duarte, Nai kosok José Borromeu Duarte e Nai kosok Alexandrino Borromeu. Por outro lado no casamento católico com a D. Maria Borromeu Duarte (rainha) não tiveram filhos. Ela pertencia (Kadunan Kelekafu e Lor), ”tuir rai fuan Alas nian; nia amam D. Januário, maibe nia pertence ba inan, mane sira cabem sai ba habani iha fein nia uma, oan sira pertence hotu inan, labele herda husi amam nian”. D.Maria tinha também relação familiar com Dato Nó Marcos, conhecido como Capitão Marcos, chefe do Suco Mahaquidan. Na cerimónia tradicional realizada pela Nobrezas e Datos, o trono foi entregue a D. Carlos como Liurai de Alas. O estado português mais tarde reconheceu e oficializou-o como régulo de Alas e de Dotik. Com o passar do tempo D. Carlos queria levar alguns filhos para a sua (casa real) Kadunan Bileto em Hatolia, porém a mãe dos três filhos não aceitou. No entanto, D. Carlos pediu autorização aos Datos para viver com uma das filhas do régulo D. Afonso Hornai Soares Pereira, cujo nome era D. Maria Doutel Sarmento, meia-irmã de D. Engrácia Doutel Sarmento (amo ferik kadunan), o fruto desta união nasceram duas filhas, Celeste Borromeu Duarte e Maria Virgínia Borromeu Duarte. A tal filha, princesa Celeste,” tuir rai fuan, nia ba aman nia uma Kadunan Bileto iha Hatolia”

Mérito e Louvor

 Durante o seu reinado D. Carlos fez várias obras extraordinárias tais como: esculpir a moagem para moer o milho, e conservou-a até o tempo de guerra em 1975, sendo que os militantes da Fretilin utilizaram-na para o carregamento de baterias; construiu uma Igreja e uma escola em Alas; fez duas estátuas utilizando argila; em que a primeira era uma mulher a transportar na cabeça uma panela de água e pelo seu umbigo saía a água e a outra tinha a forma de leão e a água saía pela boca, a primeira foi feita em Same/Manufahi e a segunda em Maubisse. As obras não deixaram prestígios, pois foram completamente destruídas durante a ocupação japonesa.

Nessas obras, teve o mérito e o louvor seguinte:
Boletim Oficial concedido ao D. Carlos Borromeu Duarte por mérito.



Perseguição política ( Morte do D. Carlos Borromeu Duarte)

 Durante a ocupação japonesa por invejas e intrigas de um indígena, D. Carlos Borromeu Duarte foi acusado de ter colaborado com os Australianos. Devido a esta acusação o comandante japonês deu a ordem para o capturar. Mas a tentativa da captura foi fracassada. Perante este falhanço, os japoneses arranjaram outra forma para D. Carlos se render, capturando a sua família nomeadamente as mulheres e os filhos fazendo-os reféns. Face à esta situação, D. Carlos recebeu uma carta do comandante japonês, servindo como um ultimato, caso ele não se rendesse, o filho mais velho Nai Kosok José Borromeu poderia ser morto em qualquer momento. Uma vez que este se encontrava numa situação bastante crítica sem comer e beber durante dois dias. Pelo amor incondicional aos filhos, D. Carlos mandou um recado aos japoneses que lhe soltassem os filhos em troca da sua rendição. Depois de render, D. Carlos foi violentamente espancado até à morte e depois ataram-no com a corda a volta do pescoço, para ser puxado pelo cavalo desde Betano Fatukuak até Alas onde foi sepultado em 1945. 

 

Período de Transição ( Susseção do Trono )

 Na retirada dos japoneses, o estado português reconheceu como esposa a D. Maria para dar continuidade do trono durante uns anos. De acordo com a Literatura oral, da boca do Dato Rai, Feliz Fernandes contou várias vezes, dizendo que o estado português e D. Maria Borromeu já queriam entregar o trono ao Filho de D. Carlos, Nai José Borromeu, mas este não aceitou, visto que era menor e ao mesmo tempo não tinha experiência. O filho mais velho príncipe (Nai)  José Borromeu estava estudar no colégio de Soibada até à terceira classe do ensino antigo. Com a morte do pai D. Carlos, José viu-se obrigado a abandonar os estudos e a orientar os seus servos no campo para o cultivo do arroz e do milho com objetivo de educar o irmão mais novo príncipe (Nai) Alexandrino Borromeu juntamente com a mãe. Por insuficiência dos estudos, Nai José Borromeu queria entregar o trono ao irmão mais novo, alegando que este reunia mais condições de estudo.
A tia D. Maria desejava que o sobrinho fosse régulo de Alas, informando o estado português para chamar o sobrinho, Nai Januário Franco, escriturário de administração em Maubisse para ascender ao trono, mas ele recusou, dizendo que a vida como funcionário era mais livre e mais sossegada. Todavia nessa altura os príncipes herdeiros da Casa Real (Kadunan Uma Bereloik) filhos de D. Carlos eram menores, logo ele foi obrigado a aceitar. O estado português deu o reconhecimento como Regente, esperando que os próprios herdeiros um dia pudessem por direito subir ao trono, visto que ainda eram menores. D. Januário Franco e D. Maria Borromeu herdeiro da casa nobreza Kelekafu e Lor (Kadunan Kelekafu e Lor) de Alas, tinha relação sanguínea com D. Engrácia Doutel Sarmento (amo ferik Kadunan) e com os príncipes José Borromeu Duarte e Alexandrino Borromeu.
O príncipe José casado com a Infanta (Nai Lou) Mariquita Amaral neta de D. José Amaral e sobrinha legítima D. Mário Amaral de Dotik. Os príncipes tiveram dois filhos, ambos foram mortos na guerra em 1976 na cadeia de Same/Manufahi. Como se verificou Nai Januário ascendeu ao trono desde 1952 até a sua morte em 1973. Após a sua morte, D. Maria Borromeu, entregou tradicionalmente a coroa que é Belak de Alas a Nai  José Borromeu Duarte, filho legítimo de D. Carlos, mesmo não sendo reconhecido pelo estado português, contudo tradicionalmente e com maior legitimidade, é reconhecido pelos Datos. Liurai José Borromeu Duarte ascendeu ao trono “hodi hatodan an iha Kadunan Uma Bereloik hodi kaer ba rai Alas”, recebendo-o de forma tradicional, porém a favor do irmão, Nai mane ikun ex-Administrador do Distrito de Same/Manufahi na ocupação Indonésia, desde 1976 até 1985. Alteza Príncipe Alexandrino Borromeu casado com D. Maria Sequeira de C. Borromeu Duarte, tiveram dez filhos, quatro rapazes e cinco raparigas.
O Belak “coroa de Alas” é usado de geração em geração na família real de Kadunan Uma Bereloik, ficando na posse de D. José Borromeu Duarte (amo tuas Kadunan), é um termo de tratamento aos filhos dos “reis ”, desde 1974 até 1997.

Em 1997, Alteza príncipe Eng. Carlos Borromeu Duarte, filho legítimo D. Alexandrino Borromeu (amo mane ikun) e de D. Maria Sequeira de Carvalho Borromeu Duarte sucedeu o tio José Borromeu como Liurai de Alas, (Régulo de Alas) Casado com D. Agata Borromeu Duarte. Ambos têm um filho.
Durante o conflito em 1999 eles foram evacuados para a Indonésia.
Com a Independência de Timor-Leste em 2002, Liurai José Borromeu e os katuas Lia Nain decidiram entregar a sucessão do trono à sobrinha, Alteza princesa ( Nai Lou), Alexandrina Borromeu Duarte, irmã mais velha do Alteza Príncipe Eng. Carlos Borromeu Duarte, que na ocupação da Indonésia em 1996,  foi para Portugal com marido e os filhos.

Em 1999 a casa real (Kadunan) foi incendiada pelos Indonésios. Na nova construção de Kadunan Uma Bereloik e Natar Bocu (casa real) em 2009, Liurai José (amo tuas Kadunan) convocou uma reunião com os Datos (Cortes) de Alas para escolher um verdadeiro símbolo de monarquia para ascender ao trono e herdar a Casa Real (Kadunan Uma Bereloik). Depois da reunião com os Datos, todos concordaram unanimemente que Nai Lou (Alteza princesa) Alexandrina Borromeu Duarte, casada com Senhor Joanico Soares, funcionário Aduaneiro do estado português, ambos têm dez filhos, quatro raparigas e seis rapazes, como a pessoa certa para ascender ao trono.     Com acordo mútuo dos Datos (Cortes), uns dias depois, em 31 de Janeiro de 2009, realizou-se a cerimónia da coroação e a inauguração do Kadunan Bereloik e Natar Bocu. Na cerimónia várias entidades estavam presentes, tais como; Pe. Eugénio Pereira OFM. Superior da Paróquia de Alas, Senhor Administrador do Distrito Manufahi/Same Filomeno Tilman Comandante da Polícia do Distrito Manufahi, Cordenador do Subdistrito de Alas, Liurai Basílio Moniz do Reino de Laklubar, Liurai José Duarte do Reino de Hatolia, Liurai Eusébio Amaral do reino Dotik, os Liurais de Bariki e Welaluhu, incluindo os nobres de Kadunan Karloik, Kadunan Kelekafue Lor, os Datos (Cortes), e Catuas lia Nain (Ansião), Dato Rai, Dato Tahubein/inan amam, Dato Loiluan, Dato Knua Alas, no entanto devido a chuva torrencial Dato Lurin não compareceu. Na cerimónia da coroação o Dato Rai Feliz Fernandes expressou algumas palavras em tetum, “ hori uluk hori uain, ami nia Kadunan maka ami nia estado, ami hanai ho serbi too ba loron ohin. Ne oan feto nebe maka amo tuas no ami tomak leno no hatudu, katak Nai Lou Alexandrina Borromeu Duarte, hamarik nudar mane hodi hatodan An ba Kadunan Uma Bereloik hodi kaer Rai Alas.“

Tradição

 Segundo a tradição de Alas, antes da coroação para ascender ao trono, é preciso  ter a reunião com os Datos e Catuas lia nain, durante alguns dias para decidir a pessoa certa. Antes da chegada dos Europeus, o Reino de Alas tinha a sua assembleia bem estruturada e constituída pelos Datos (Cortes), cada Dato tinha a sua função: Dato inan amam/ Tahu Bein, hiti no kous, e Dato Rai hodi leno ba povo, Dato Loi Luan fo justiça, Dato Lorin hodi tau segurança, entre outros.
 Em Timor cada região tem a sua tradição e costumes e são muito bem conservadas até à atualidade, mesmo tendo a influência portuguesa dada a colonização, o respeito pelos usos e costumes sempre se mantiveram. O exemplo concreto, podemos falar sobre a região de Alas, onde o casamento tradicional “tuir rai fuan” tem um valor muito simbólico, uma vez que sempre esteve enraizado na sociedade timorense antes da chegada dos portugueses, ao contrário do casamento católico foi introduzido pelos missionários portugueses através da evangelização.


Casamento Tradicional 

No reino de Alas e de Manatuto não existe barlaki.” laiha hafoli nó sosa feto, hodi belak surik  osan mean, ka mutin,  maibe mane foun tama hodi ba habani iha feto nia uma e sira nia oan hela ba inan, bain hira mane ne hakarak karik nia oan  ida ka rua nia sei tau netik mutin  cá mean ruma tuir uso costume reino  sira ne nian. Hanesan mos D. Bernardo Doutel Sarmento, dato hodi mutin ho meam hasae ba iha Kadunan Uma Bereloik (casa real) hodi hiti ho kous lori ba hasae iha nia aman D. Afonso Hornai Soares Perreira nia Uma Kadunan Uma Sapeo (casa real) Bibisusu Fatubereliu.
Reino Alas iha uma Liurai tolo,  Kadunan Uma Bereloik no Natar Bocu, sira nia grau ka posto tuir malae nian Coronel, Kadunan Carloik,  Kadunan Kelekafu no Lor, sira nia grau ka posto Tenente-Cornel. Reino Dotik sira nia Kadunan mos Coronel. Hori uluk to oras ne Kadunan Uma Berloik maka tenki ukun, bain hira nia geração laiha maca sei hili fali Kadunan rua nia geração. Laos tuir malae nian amam ba oan maibe tuir Uma, ne Rai fuan hori kedas rai moris.  

Fotografias

Liurai José Borromeu e a irmã Liurai feto Maria Virgínia Borromeu Duarte.

Kadunan Uma Bereloik e Natar Bocu (Casa real).

Hatudu no Leno ( Coroação ) Liurai Feto Kadunan Uma Bereloik Alas.

Discurso do Sr.Administrador do Distrito de Manufahi/Same na cerimónia da coroação.

Missa da Coroação ( Simu bensaun ) celebrada pelo Pe. Eugénio da Paroquia de Alas.


Reunião dos Datos para decidir a herdeira do Trono.

Nai Liurai Feto Kadunan Uma Bereloik Alas (Rainha) D. Alexandrina Borromeu Duarte.


Vídeos de Ceremónia da Coroação da Nai Liurai Feto

Vídeo 1

Vídeo 2 

Ligações Externas 

Liurai de Alas D. Carlos Borromeu Duarte

D.Boaventura de Manufahi